Resultados da busca
75 resultados encontrados com uma busca vazia
- Como escrever imersivamente e encarnar seus personagens
Você já leu uma novel em que ficou tão imersivo que se sentiu um só com o narrador? Desde a primeira página, o autor te faz ter empatia e entender o protagonista, encorajando-o a sentir e viver a jornada pelos olhos do personagem principal. São novels como essas que devoramos em um dia, ou melhor, somos devorados por elas, pelo seu universo e narração, obras nas quais nos sentimos imersos. Deseja escrever uma história que prenda o leitor? Trabalhar a imersividade é a chave para isso! Mas o que exatamente é essa técnica e como você pode utilizá-la em sua própria escrita? Vamos detalhar tudo o que você precisa saber no artigo de hoje, escritor! O que exatamente é uma história imersiva? É uma técnica narrativa na qual, usando da subjetividade, elimina-se a distância entre leitor e narrador personagem. Em outras palavras, a narrativa é moldada por meio dos pensamentos e experiências do narrador. De preferência, sem mudar de narrador com frequência e sem os vícios de linguagem e forma de falar do autor. A vantagem de escrever dessa forma é levar os leitores a experimentar a história de acordo com a visão de mundo do personagem, o que torna os eventos mais pessoais e cativantes. Graças a capacidade de, por meio dessa técnica, simular a experiência que muitos telespectadores têm ao assistir animes, ela vem se tornando popular. Vale ressaltar, é possível escrever imersivamente tanto na terceira quanto na primeira pessoa, dependendo do que quer para a sua história. O que define uma história imersiva, é a subjetividade na narração e o cuidado para evitar marcas de autoria. Estas últimas são palavras ou frases que tiram os leitores da perspectiva do personagem do ponto de vista, lembrando-os de que há um autor por trás da história. Tais marcas podem ser, por exemplo, dicendi, sentiendi e frases que não soem naturais comparadas a forma como o narrador normalmente se expressa. Dito isso, discutiremos isso com mais detalhes a seguir, não precisa esquentar a cabeça agora. Como aprender a escrever imersivamente? Como a intenção desse método é encorajar os leitores a ver o mundo pelos olhos do seu personagem, é fundamental que você o conheça profundamente, quanto melhor o conhecer mais profunda sua narrativa vai se tornar. Depois de dedicar um tempo para desenvolver seus personagens, existem alguns parâmetros-chave que você deve ter em mente ao trabalhar para dominar essa técnica narrativa: 1. LIMITE O CONHECIMENTO DO SEU PERSONAGEM O primeiro passo para entender a mente do seu personagem é definir o que ele sabe e não sabe, pois, diferente do autor, o personagem não sabe tudo. Por isso, se há um evento ou informação que quer adicionar a sua história do qual seu personagem não sabe, deve usar, ou de outro ponto de vista, ou encontrar uma forma de dar essa informação ao leitor sem depender do narrador. 2. CORTE PALAVRAS QUE PODEM QUEBRAR A IMERSÃO Quando você, ao invés de mostrar o que um personagem está experienciando, usa expressões como “ela viu”, “ele pensou" ou “eu senti”, o efeito gerado é de relembrar o leitor de que há um autor por trás de cada palavra. Por exemplo, veja como a remoção de algumas palavras podem alterar a experiência do leitor: Pouco imersivo Por fim, os temores diminuíram e a terra se acalmou. Maggie se perguntou quão ruim tinha sido o terremoto. Ela olhou ao redor e viu as profundas fendas no chão onde o pavimento da estrada tinha rachado. Ela sabia que era pelo menos um terremoto 7.0 na escala Richter. Imersivo Por fim, os temores diminuíram e a terra se acalmou. Quão ruim foi esse? Ao redor, rachaduras largas cortavam o pavimento como se a estrada fosse tão macia quanto carne. Apesar do calor, Maggie sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Sem nem piscar, ela, abalada pela devastação, sentou. Observe que o segundo exemplo remove as palavras "se perguntou", "viu" e "sabia", ao mesmo tempo em que adiciona imagens que tornam a narrativa mais pessoal à experiência do personagem. 3. LIMITE O USO DE VERBOS DICENDI Usados para indicar quem está falando, eles são verbos muito úteis, mas também são palavras que quebram a imersão, por isso o ideal é limitar o seu uso ao mínimo possível. Certas palavras são comuns ao ponto de se tornarem quase invisíveis para o leitor e pouco afetam a imersão (disse, respondeu e perguntou). No entanto a maioria dos dicendis bem como o uso exacerbado dos mais comuns pode tirar o leitor da história. Por sorte, limitar o uso desses verbos é fácil. Via de regra, pode simplesmente não usar, deixar o diálogo fluir por si mesmo e, para os momentos em que não está claro quem está falando, usar um dicendi comum. Por exemplo: Pouco imersivo Ela encontrou John na rua. Sangue escorria por sua testa enquanto ele se levantava sobre as pernas trêmulas. — Você está bem? — ela perguntou. — Estou bem. — John sussurrou fracamente. — Você não parece bem — ela repreendeu examinando o corte. Só então, a terra mais uma vez começou a se curvar. — Abaixe-se! — ela chorou. Imersivo O suspiro de alívio saiu dos lábios dela quando olhou para a extensão da estrada. A poucos passos de distância, John estava de pé, trêmulo, mas vivo. Ela correu. — Você está bem? — A garota observou com atenção o pequeno corte na testa dele. — Suave. Ela franziu a testa. — Você não soa bem. — A voz dele estava tensa e fraca, mas ela não teve tempo de continuar questionando. — Se abaixe. — Ela gritou puxando o homem para perto enquanto a terra começou a tremer mais uma vez. Vê como é possível remover o dicendi sem perder a clareza? 4. FAÇA O USO MÁXIMO TANTO DO MOSTRAR QUANTO DO CONTAR Geralmente, eu sinto que a frase “show don’t tell” é mal entendida. Contar é importante e usado com muito mais frequência do que imagina. Essa frase, na verdade, se aplica principalmente quando estamos falando de descrição. Como Chekov disse, “não me diga que a lua está brilhando, me mostre o reflexo da luz em um vidro quebrado. Mostrar, pelos olhos do seu personagem, o que ele está vendo e sentindo é uma boa forma de aprofundar a voz do seu personagem. O que o fazendeiro notaria e, por conseguinte, descreveria ao, pela primeira vez na vida, entrar em uma cidade como São Paulo é completamente diferente do que alguém que nasceu lá diria. 5. TENHA UM NARRADOR COM VOZ PRÓPRIA A narrativa subjetiva limita a narrativa ao ponto de vista de um único personagem de cada vez, mas a narrativa subjetiva e encarnar seus personagens são coisas diferentes. Este último afeta profundamente o estilo da prosa de um escritor. Ao escolher encarnar seu personagem, você está escrevendo de acordo com a visão de mundo dele. Naturalmente, seu vocabulário, suas crenças, seu conhecimento e sua personalidade devem ter um grande impacto na forma como cada linha será escrita. Para saber como fazer isso, deve primeiro desenvolver a voz do seu personagem. Obs.: temos um artigo só sobre esse assunto, sinta-se livre para conferir. Top 5 formas de dar voz ao seu narrador. 6. EVITE VOZ PASSIVA A voz passiva indica que o sujeito da frase está sofrendo a ação ao invés de a realizando. Claro, assim como contar tem seu lugar a voz passiva não é diferente, porém ela pode, algumas vezes, remover a perspectiva do seu narrador. Use essas sentenças de exemplo: Os ombros dela foram esmagados pela viga. Nessa sentença, “ombros” é o sujeito, recebendo a ação de ser quebrado. Por outro lado, invertendo para a voz ativa mantendo a perspectiva do seu personagem temos: A viga esmagou o ombro dela. Vê como essa é a forma mais natural? Ela mantém o ponto de vista direto e conciso, o que facilita a imersão do leitor no mundo do seu personagem. Obs: se quiser saber se está usando voz passiva, coloque “pelo Rose” no final da frase. Caso seja possível, então é voz passiva. Por exemplo: o ombro dela foi esmagado pelo Rose. 7. PENSE ANTES, ESCREVA DEPOIS Encarnar o seu personagem pode ser uma boa ideia, mas vamos da ênfase no pode. Esse é um estilo narrativo que oferece algumas vantagens, mas também pode não se encaixar com seu estilo de escrita ou com a história que quer contar. Não faz sentido gastar horas e um esforço imenso tentando dar voz e complexidade ao seu personagem para tentar o encarnar, se você quer escrever uma história sobre a fauna, flora, política e outros trocinhos de um mundo que você inventou. Ou seja, achar o estilo que mais combina com o que quer contar é fundamental. Por isso pense no que quer contar antes de tentar qualquer coisa nova que aprendeu.
- Como fazer uma boa sinopse?
Importância de uma sinopse A sinopse é um dos primeiros contatos do leitor com a sua história! Antes do prólogo, do primeiro capítulo ou das tramas que você desenvolveu, o leitor pode acabar lendo sua sinopse. Caso não seja interessante, você possui grandes chances de perder o interesse de alguns leitores. Dois tipos de sinopses Poucos sabem isso, ainda mais aqueles que não pesquisaram sobre o assunto, mas existem dois tipos: sinopse editorial e sinopse cópia. Sinopse Editorial: nada mais é que a sinopse mais bruta que será entregue para um editor, onde não precisará esconder nada. Normalmente, é a carta que você envia para uma editora, por isso recebe esse nome. Ela é literalmente seu enredo resumido na forma de uma sinopse longa. Se aprovado pela editora, provará que você, acima de tudo, sabe escrever e escrever algo que vende. Sinopse Cópia: é escrita para o leitor, deixando em aberto as informações, mas dando trazendo conteúdos factíveis da obra ao leitor. Recebe esse nome porque, após a aprovação da editora e a editoração, normalmente é feito cópias do seu livro, com uma sinopse nova, que é essa que aparece nas cópias impressas. Uma sinopse, seja de cópia ou editorial, nada mais é que uma visão geral de seus principais gêneros e um resumo do enredo, subenredos, o final, descrição(ões) de personagem(ns) da história. Caso esteja escrevendo uma ficção literária, sua sinopse não importa muito porque o seu estilo de escrita é mais importante que o enredo. No entanto, se você escreve um gênero de ficção, a sinopse é mais do que crucial para mostrar que você sabe como estruturar uma história envolvente. Passos para escrever uma boa sinopse 1 - Crie uma visão geral Nessa primeiro passo, é recomendável que faça um parágrafo com uma frase sobre cada um dos seguintes pontos: Envolvimento do protagonista com a história; O conflito ou mistério que surge e leva a história adiante; e O mundo que se passa a sua história. "Recomendo que em cada ponto não passe de 50 palavras. E, após isso, combine tudo isso em um único parágrafo. Esse parágrafo serve como guia das informações que seguirá para a segunda etapa." — Rose Kethen. 2 - Desenvolva um esboço Seguindo a ideia anterior, deixe aquele primeiro parágrafo de lado e a use apenas como um guia para a segunda parte. No primeiro parágrafo que for escrever, apresente o(s) seu(s) protagonista(s), o mundo e o conflito; No próximo parágrafo, explique quais viradas importantes na trama acontecem com tal/tais personagens. Foque apenas nas grandes viradas. E é bom incluir uma breve menção do seu antagonista; Por fim, no terceiro parágrafo, descreva como os principais conflitos da trama serão resolvidos. Você deve revelar o final no que propõe, não o final mais concreto que o leitor receberá, mas uma resolução, pergunta ou citação do que busca do final dela. 3 - Vá além Os dois últimos passos são o esqueleto, enquanto a primeira etapa era um guia espiritual, agora é como se você estivesse colocando a carne no corpo. Nesse passo, você escreverá uma sinopse longa, buscando algo entre 3 e 5 páginas escrita, onde irá adicionar mais e mais informações que podem ser úteis. Procure maneiras de prender o seu leitor com, de fato, o texto mais puro que pode produzir, independentemente de ser uma sinopse. E, dessa vez, busque deixar o seu final enevoado, sem forma, para instigá-lo. Se questione: O que tem de interessante no seu mundo? Por que os leitores devem se preocupar com o protagonista? Quem é o vilão? Haverão companheiros do protagonista e quem são? Como esses companheiros relacionarão com o protagonista? Qual a moral questionável que ronda a história ou personagens? O que está em jogo para o seu protagonista? Para criar uma sinopse séria, um livro de fato, são essas simples perguntas que você deve saber responder sem temer ou demora, pois elas que te indicarão se a sua história é bem pensada ou não. Claro, para os escritores de novel, isso dificilmente é aplicado, mas, caso queira se testar, vá além. "Use essa nova sinopse como a guia espiritual para dissecar e extrair o mais puro e interessante da sua obra, do seu enredo. Lembre-se, a sinopse nada mais é que o seu enredo mais puro e breve possível, com a NECESSIDADE de atrair o leitor." — Rose Kethen. Após essas etapas, você terá conteúdo o suficiente para começar a escrever sua novel. No fim do artigo,, você irá encontrar alguns modelos de sinopse, mas você pode escrever de qualquer forma, basta colocar os pontos apresentados nos 3 passos. Coisas que você deve evitar ao escrever a sua sinopse Não explique a mecânica da história... "Os temas são...", "essa é a história sobre...", "os enredos se juntam quando...". É desnecessário fazer isso e ocupa um espaço valioso em sua sinopse. Evite instruir os leitores sobre como eles devem se sentir sobre os acontecimentos da obra. Em vez de usar palavras como "se comova", "é de partir o coração", "revigorante/revigore-se", "aproveite", "presencie", "acompanhe", por aí vai... Deixe o enredo comunicar as emoções. Seguindo essa linha de raciocínio, não inclua perguntas destinadas a provocar o leitor, por exemplo: "será que Renan vai superar este desafio?" ou "Poderia ser que Eduardo Goetia capaz de resolver tamanho mistério?". Isso torna a obra banal, a sinopse existe literalmente para não gerar duvidas, mas interesse. Não seja prolixo. Como escritor, é necessário que utilize habilidades da escrita e analise a sinopse para corrigir as frases desajeitadas e repetições de palavras. Lembre-se de que sua sinopse não precisa incluir todos os pontos da trama. Dica final: Mostre sua sinopse para pessoas que não leram seu livro! Por você ter escrito aquilo, pode ser difícil avaliar a eficácia da sinopse. Uma perspectiva externa pode ajudar a ver onde pode ter deixado de fora alguma informação crucial... Ou que deixou com excesso de informação. Alguns tipos de sinopses para novels Para nossos queridos novelistas de plantão, caso não queiram apenas se saciar com o modelo simples (editorial), apresentaremos algumas estruturas de sinopse para novels: Padrão O modelo padrão é uma forma básica de estrutura de sinopse e não se limita a organização. Ou seja, o autor pode preferir colocar o personagem em primeiro lugar, apresentar o local que acontece a obra e a situação que se encontra. Não se prenda aos detalhes, explique e demonstre ao leitor o que ele encontrará ao ler. Local (ou mundo) Situação (O que leva até o problema ou resolução) Personagem (apresentação e motivações para que seja encaminhado a situação) Exemplo: Daniel de Oliveira Dantas, eleito melhor jogador de Nova Avalon Online do Brasil, descobre que está para perder tudo aquilo que conquistou em sua carreira. Agora, completamente endividado e sem chance alguma de voltar ao cenário competitivo, Daniel terá de recomeçar com nada além de um druida nível 1, um ajudante misterioso e todo conhecimento adquirido em sua carreira profissional. Nova Avalon Online é o jogo em realidade virtual mais jogado do mundo. Contando com mais de dois bilhões de usuários, o jogo conquistou o mundo com seu realismo inigualável e possibilidades infinitas, além de possuir o cenário competitivo mais disputado e cobiçado da História. Em Nova Avalon é possível sentir o chão em que pisa, o gosto da comida, o peso das armas e a dor de um golpe sofrido. Caso tenha ficado interessado na história, você pode acessar clicando aqui Problemático Este, como podemos ver, tem como foco captar o leitor com o problema por si só. Não é focado nos personagens, mas nas circunstâncias que foram colocados e tudo o que é relevante ao enredo: o mundo, os personagens, como será desenvolvido. Neste caso, é fácil capturar a curiosidade do leitor, mas também difícil de executar na prática. Conflito (Mostre o problema da obra como condutor ao personagem e o local) Personagem (Apresentação, mas focado em como ele se liga ao conflito) Local + Causa (Como mundo é influenciado pelo conflito e a causa é nada mais do que o ponto de virada do protagonista, servindo para atrair o leitor) Exemplo: República de San Magnolia. Por muito tempo esse país foi atacado por seu vizinho, o Império, que desenvolveu uma série de veículos militares chamados de Legion, que não possui tripulantes. Em resposta à ameaça iminente, a República conseguiu desenvolver uma tecnologia semelhante e assim devolveu o ataque inimigo, sem fatalidades. No entanto, essa era apenas a versão oficial. Na verdade, houve sim vítimas. Além dos 85 distritos conhecidos da República, existia um outro. O “não-existente distrito 86”. Foi lá que jovens homens e mulheres do destacamento conhecido como oitenta e seis lutaram... Eles lutam dentro de drones. Shinn comandava as ações dos jovens desse esquadrão suicida enquanto estavam no campo de batalha. E, Lena, uma "Handler", comandava as coisas do lado de fora das batalhas, com a ajuda de um comunicador especial. A história de despedida, cheia de lutas e tristezas desses dois começa! — 86 ―Oitenta e Seis― Caso tenha ficado interessado na história, você pode acessar clicando aqui Comercial Essa é de longe a mais difícil de executar bem. Como pode ver, a construção desse tipo de sinopse depende da abertura e fechamento de algo, mas não se limita a isso, pode ser que você trabalhe apenas com a frase ovacionada no final, para que o leitor se depare com algo que realmente o prenda na trama. No entanto, é bom frisar que esse tipo de estrutura demanda muito do estilo do autor, pois, como imagina, duas frases que refletem o significado por inteiro da sua obra é algo complicadíssimo, principalmente quando se refere a interesse do leitor. Frase Ovacionada (Defina em uma frase, seja narrativa ou diálogo, o que representa por si só o apogeu que é a sua obra. Essa frase é como a abertura de algo fantástico, algo misterioso ou inimaginável) Personagem + Causa (Seja a apresentação ou a menção dele, mas o que leva a tal personagem estar rodeado pela causa que foi colocado, não definindo o conflito, mas deixando em aberto) Motivação + Local (Mostre a motivação, seja do personagem ou uma névoa do que é o conflito, mas que sirva de resolução para que tal local/mundo possa sofrer ou se beneficiar daquilo) Chamado ao Leitor (Defina em uma frase, seja narrativa ou diálogo, o que representa o fechamento do apogeu daquilo que a sua obra busca ser. Essa é a frase que fecha o que foi aberto, com uma definição do palpável da trama) Exemplo: Love Me Royal Academy era o otome game mais popular da atualidade, com personagens incríveis e uma trama envolvente, além de uma guerra de fundo que teria um novo desfecho com a nova atualização. E lá estava eu, a jogadora mais próxima de conseguir os 110%! Iria me tornar uma lenda viva! Mas tudo foi destruído em um piscar de olhos, quando uma mensagem apareceu no meu jogo e eu decidi aceitar. Após isso fui reencarnada como uma das personagens do jogo. EU ESTAVA QUASE CONSEGUINDO! — A guerra se aproxima! Como pretende que eu participe disso?! Agora, eu, Elizabeth Stuart, a piada da comunidade, tenho que lidar com um lugar com um monte de personagens problemáticos, monstros e uma guerra que pode me matar! Nem ao menos posso usar magia, que tipo de enredo merda é esse? Pelo menos me dá uma ajuda, sistema de merda! — Cheat da Figurante: Tenho que Destruir Todas as Rotas!? Caso tenha ficado interessado na história, você pode acessar clicando aqui
- Quem tem crase vai a Roma
Não é de hoje que a crase, marcada pelo acento grave (`), atormenta muita gente em seu uso. O que todo mundo sabe e esquece na hora de usar é que ela é simplesmente a junção de "a", preposição, e do "a", artigo definido. Também podemos dizer que é a "versão" feminina do "ao". a + a = à Preposição Artigo Dito isto, vamos primeiro explicar o que é uma "preposição". Preposição Preposições são palavras que desempenham o papel de relacionar um termo de outro em uma frase. A função da preposição é parecida com a conjunção. A diferença é que, enquanto a conjunção une uma oração à outra, a preposição une termos dentro de uma oração. Vamos ver um exemplo: Queria ser como você. (preposição); Como sou lento, preciso de ajuda. (conjunção). A palavra "como" pode desempenhar tanto o papel de preposição quanto de conjunção, assim como o "a" pode desempenhar vários papéis na gramática também. Quando usar crase? O uso mais comum da crase é em uma oração onde há verbo que indica destino e um substantivo feminino. Fui à Academia. Vamos à guilda. Viemos à caça. Voltamos à masmorra. Preposições tem outras preposições sinônimos, o que ajuda a compreender e decidir se será uma crase na frase ou não. Pegando os exemplos acima, podemos trocar a preposição "a" da crase por outras preposições: Fui até a Academia; Vamos para a guilda; Viemos para a caça; Voltamos até a masmorra. Em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas Chegaremos na vila à tarde; Saímos do castelo às pressas; À medida que a mão esquentava, iluminava as paredes ao redor. Locuções adverbiais são conjuntos de 2 ou mais palavras que fazem o papel de advérbios. Também utilizamos crase quando a locução está subentendida. Exemplo: bife à (moda de) cavalo. Quando destinos são nomes próprios de locais em que a concordância de gênero prepositiva é feminina Como exposto no título desse artigo, alguns nomes de locais diferenciam na concordância de gênero, mesmo se o local em si não possuir tal característica. Locais onde podem ser precedidos por "da" podem também ser precedidos por crase. Veja: Fui à Alemanha. (Volto da Alemanha); Vou à China. (Volto da China); Fomos à Amazônia. (Voltamos da Amazônia). Em contrapartida, quando são precedidos por "de", fica somente a preposição "a". Veja: Fui a Roma. (Volto de Roma); Vou a Amazonas. (Volto de Amazonas); Fomos a Rio de Janeiro. (Voltamos de Rio de Janeiro). Antes de pronomes demonstrativos aquilo, aquela e aquele É simplesmente a contração da preposição a com esses pronomes para evitar a repetição "a aquele". Entreguei os materiais àquela atendente; Àquilo voltarei minha total atenção. Em indicação de horas Chegaremos ao ponto de descanso às 14 horas; Às dez da noite nem estávamos aqui. Quando houver preposição antes do numeral, não use crase. Estamos sem comer desde as 12 horas de ontem; O ataque está marcado para as cinco da tarde. Então, quando não usar crase? A charge acima já revela um caso. Na nova ortografia de 2009, foram retirados alguns hifens de palavras compostas. Palavras compostas como essa (corpo a corpo) onde há repetição de dois termos e a preposição "a" no meio, não se usa crase. Passo a passo; Cara a cara; Olho a olho. Antes de palavras masculinas Veículo movido a feitiço / Veículo movido à magia; Barco a vapor / Barco à vela. Antes de verbos que não indicam destino Fui convidada a ficar. / Fui convidada à me retirar; O soldado ficava a tagarelar. / O soldado ficava à marchar. Antes de pronomes pessoas retos e oblíquos Entregue esta carta a ele. Prefere responder à guilda do que a mim. Antes de pronomes demonstrativos isso, isto, esse, este, esta, essa Nos arriscamos a isso, descendo até aqui. Desista! Sucumba a este ataque! Existe crase facultativa? Há casos em que é correto tanto o uso da crase quanto a preposição a, não alterando o sentido da frase. Depois da preposição "até" Ex.: Caminhei até à floresta. / Caminhei até a floresta. Antes de nomes próprios femininos. Ex.: Enviei meu colar à Catarina. / Enviei meu colar a Catarina. Antes de pronomes possessivos Ex.: O demônio confiou a pedra à sua súdita. / O demônio confiou a pedra a sua súdita. Agora é com vocês!
- Lista completa de onomatopeias para novels
Segue abaixo uma lista que você pode utilizar em sua obra. Ela é listada em origem, que pode ser utilizada na expressão e explicação, palavra, de palavras onomatopaicas, e onomatopeia, que contém a onomatopeia pura e palavra interpretativa. Caso queira aprender a como utilizar esta lista, clique aqui.
- 7 Dicas para escrever Cenas Hot
Eles vão falar daquilo? Hihihi… Por vezes, alguns colegas escritores vieram me procurar em particular buscando opiniões e dicas sinceras sobre um texto Hot que haviam escrito, mas que se sentiam inseguros de mostrar para alguém. Confesso que isso me surpreendeu. Nunca me considerei um especialista no gênero, mas lendo uma variedade de contos do tipo — bons e ruins — e escrevendo outros por aí, adquiri certa percepção sobre a coisa que alguns desses autores pareceram considerar, o que, assumo, me deixou bastante feliz. Foi essa consideração que me motivou a escrever este artigo, por isso não entrarei no mérito da importância de um evento Hot para qualquer enredo em específico, afinal, uma história é algo muito particular, então cabe ao autor saber o que é necessário ou não na própria trama. Aqui, no entanto, vale salientar um fenômeno curioso que observei em meio a isso. Um velho tabu Por fazer parte de um grupo de escritores que se ajudam, frequentemente me deparo com o choque e a violência extrema inseridas nos mais diversos tipos de histórias, mas percebo o tamanho da insegurança, ou mesmo intolerância, que alguns têm — às vezes os mesmos da literatura pinga-sangue — em relação a algo tão natural quanto… sexo. As causas deste fenômeno provavelmente passariam por questões antropológicas tão antigas quanto complexas, que não caberiam análise a um simples artigo como este daqui, envolvendo cultura, religião, moralidade, psicologia comportamental e até variáveis freudianas, como as estruturas da personalidade humana. A minha convicção empírica, porém, chega a uma única conclusão: as pessoas só não querem parecer taradas ou depravadas! Demonstrar muito interesse em sexo nunca foi bem-visto na sociedade, porém, a menos que você esteja se autoinserindo na trama (o famigerado self-insert), está apenas exercendo a habilidade que todo escritor devia possuir: a de criar um texto que mexe com a percepção do leitor, e o tesão sempre foi uma das sensações humanas mais poderosas. Não à toa, você sempre encontrará livros Hot entre os dez mais vendidos da Amazon, com seus autores e leitores extraordinariamente anônimos, em mais um contraste entre a vergonha social e a atração pelo sexo. Aos poucos, no entanto, o tabu vem sendo quebrado (ouviu daí o som?), mas muitos autores não sabem nem por onde começar numa cena do tipo, que pode ser mais desafiadora de se escrever do que se pensa. Deixando claro que as dicas a seguir partem de uma percepção pessoal, por isso não levem nada a ferro e fogo, sendo saudável discordar em alguns pontos; porém, como dito no início, elas vêm de uma certa experiência com leituras do gênero. Vamos a elas, afinal: 1. Mostre, não conte: Essa dica já foi tão comentada, tão repetida, que dizê-la pela milésima vez pode soar aborrecido, mas o óbvio precisa ser reforçado, às vezes. Por vergonha, o autor pode acabar decidindo pelo resumo narrativo de uma cena, como num broxante: “e se amaram a noite toda”. No entanto, caso optasse pelo mostrar em vez de só contar, teria a possibilidade interessante de trabalhar a dinâmica emocional dos personagens, podendo criar uma cena de evolução sentimental através de algo tão catártico quanto o sexo. Acredite. Não tem nada mais frustrante para um leitor que aguardava ansiosamente pelo ápice da relação entre os personagens que shippava, mas que, no fim, foi obrigado a ler somente um resumo apressado — é como esperar por um beijão e receber só uma bitoca de consolo na bochecha. No entanto, saber mostrar esse tipo de cena com desenvoltura nos leva à segunda dica que é… 2. Literatura não é filme: Não conclua que a escrita de algo Hot seja o mesmo que descrever um filme pornô numa página em branco. Está longe disso, na verdade. A linguagem dos filmes é o audiovisual e, se alguém está a fim de ver esse tipo de coisa, por que vai logo escolher uma descrição mecanizada do negócio? Estou dizendo então que existe um modo de diferenciar a literatura do que aparece nesses sites que começam com a letra X? A resposta é sim, existe, e entra na nossa terceira dica. 3. Use o que só as palavras têm a oferecer: As palavras têm um poder extraordinário de aproximar o leitor dos personagens por ser capaz de adentrar no coração desses últimos e transferir seus sentimentos para o coração de quem lê. Então, ao invés de apenas descrever a ação de forma mecânica, prefira utilizar as palavras para mostrar as sensações, os cheiros, os gostos, o tato, os gemidos vacilantes… Dê foco nos sentidos dos personagens e em como a percepção da realidade muda para eles enquanto se afundam numa atmosfera particular de luxúria. Use e abuse das figuras de linguagem, das comparações e da prosa intimista, concentrando-se na psique e na dinâmica sentimental entre as partes, intercalando as ações para se evitar a repetição demasiada dos movimentos, como a de vai-e-vem, por exemplo, que pode tornar a coisa toda entediante e repetitiva. Garanto que, se bem escrito, o seu leitor vai sentir um calorzinho, tragado lentamente para o mesmo clima que envolve os personagens. 4. Início lento, descrição breve: Grande parte do erotismo de um texto Hot, advém da atmosfera surgida antes de a coisa realmente começar a rolar, então não tenha pressa de criar o clima entre os personagens, pois é ele quem vai conduzir a relação. Essa dica funciona quase como uma preliminar na mente do leitor, preparando e contextualizando o que está prestes a acontecer. Quando finalmente começar, a dica é não se prolongar demais nas descrições. Deixe a imaginação do leitor completar as lacunas da cena. 5. O valor dos diálogos: Tá, essa aqui é importante (não que as demais não sejam), mas enquanto você pode optar por um narrador neutro e distante, não é recomendável fazer o mesmo com a voz dos personagens. Dependendo da personalidade dos envolvidos, você não deve ter vergonha de inserir palavrões, xingamentos e os desejos mais safadinhos que uma pessoa só assume nos momentos de maior intimidade. É interessante criar uma imagem vívida na cabeça do leitor, mas não é errado optar por manter a vulgaridade somente nos diálogos, pois um narrador que dá nome aos bois, chamando isso e aquilo pelo nome verdadeiro, pode tornar a leitura exageradamente explícita, quebrando a imersão do leitor por sentir que está lendo uma cartilha bizarra de anatomia, por isso a importância de recursos literários como figuras de linguagens e comparações. 6. O dia seguinte: Agora que os personagens chegaram aos finalmentes, o que será da relação entre eles a partir dali? Esse é um receio muito comum entre os autores, impedindo que alguns escrevam até uma simples cena de beijo. A questão é que, como na vida real, esse evento costuma ser um ponto de virada no enredo. Como se comportarão quando se virem de novo? Irão assumir uma relação? Irão se afastar? Nada vai mudar entre eles? Apenas tenha em mente que, se você se propôs a escrever uma história, não tenha medo dos desafios que ela possa trazer. Uma nova problemática pode ser o detalhe que faltava para a história sair daquele platô irritante. 7. O bom senso: Para finalizar, diria que é sempre importante manter o bom senso ao se escrever uma história. Não quero ser o chatão do rolê, porém, na nossa sociedade, crimes sexuais estão no topo entre os mais hediondos, então uma boa inteligência emocional pode ajudar a escrever algo que não vai te complicar enquanto autor. Estou querendo cagar regra literária? Não é o caso. Virtualmente, não existe um limite definido para as formas de arte, sendo objeto de discussão até os dias de hoje entre os artistas, mas tenha consciência de que, sendo um escritor, você tem responsabilidade pelo que escreve e, às vezes, será julgado impiedosamente por isso. Contextualize sempre a sua narrativa e explique os porquês dos fatos, principalmente se o assunto for delicado.
- A Pirâmide do Roteiro
Prazer, jovens escritores, sou o Rose Kethen e aqui encontrará o que é a bendita “Pirâmide do Roteiro” e como funciona. Então vem comigo! Para que servem as histórias? A primeira coisa que preciso deixar claro é que a pergunta “o que é uma história?” é bem inútil. Na verdade, o que precisamos entender é o “para que serve uma história” no sentido psicológico, e, também, na história das histórias. Aí é necessário que saibamos como que o ser humano absorve histórias para podermos, ao criar uma obra, saber o que estamos afetando no consciente e inconsciente. Se pensarmos o que diferencia os seres humanos dos animais, é a forma como o cérebro humano pega os sentidos e tenta decodificá-los para criar significados; para ter algum controle. Temos os lados direito e esquerdo do cérebro. O esquerdo sendo o lógico; o direito, o emocional. Só que tem um problema. Toda vez que recebemos uma informação, primeiro passa pela decodificação do lado lógico, mas não conseguimos lembrar dessas coisas nem se importar com elas se não passarmos a mesma informação pelo lado emocional. Então, para essa informação ficar conosco pelo resto da vida, é exigido que passe pelos dois lados do cérebro — só assim retemos uma memória e um conhecimento. Por exemplo os sentidos: visão, audição, tato… A gente pega e decodifica isso através desse lado mais lógico, porque precisamos de controle. Ocorre desde o início dos tempos, quando éramos apenas homens das cavernas: Olhávamos uma planta e o nosso objetivo era ter o controle sobre ela; se pudéssemos nos alimentar com ela, então tocávamos, comíamos, descobriríamos o gosto e se tinha algum problema em comê-la. Só que os sentidos podem enganar. Se você visse uma plantinha vermelha, a comesse e desse em nada, suavão, né? Mas e se você visse uma plantinha MUITO PARECIDA com a vermelha, a comesse e te fizesse mal? E se ela te matasse? Como é que explicariam para alguém que aquela planta faz mal? Aí vem aquilo: Como é que alguém passa conhecimento e memória de forma que levem em consideração que nossos sentidos e emoções às vezes nos enganam? Por exemplo, imagine que recebeu uma grande notícia — muito emotiva — que alguém muito próximo a você morreu. Essa notícia vai trair um pouco a sua lógica, porque você não necessariamente controla suas emoções. Você vai chorar, desesperar, ficar com raiva, frustração, rancor… Bem, sentirá muitas emoções, mas não será capaz de refletir sobre aquela morte no exato momento. Pode ser que no velório, dias, meses ou anos depois, você passe a pensar no que aquela pessoa significou para você, de uma forma a retirar algum conhecimento, de alguma memória. Então essa é a dificuldade do ser humano: Quando a emoção tira totalmente a nossa lógica. E, quando a lógica, sem emoção, faz com que a gente não tire o sentido das coisas. Histórias, geralmente, vêm de uma maneira a você passar conhecimento para outros, de uma forma que tem emoção. Como é um acontecimento, às vezes, fictício ou que é uma coisa que já aconteceu e você não criou distância emocional — uma vez que passou muito tempo/que aconteceu com outra pessoa —, você tem essa distância suficiente para poder pensar sobre. Então, o objetivo de contar uma história é você retirar conhecimento através de uma experiência do outro. Mesmo se a experiência “do outro” seja a sua, ainda é no sentido que “outro” passou por algo que você já passou, afinal você não está tendo aquela experiência no momento, logo não está totalmente imerso na experiência a ponto de pensar nela. Um professor pode chegar na sala de aula e dizer 1+1 é igual a 2, e você vai lá e anota. Claro, isso é algo super-lógico. Mas a razão pela qual você sabe e compreende isso é porque tem alguma experiência. O emocional tem sempre muito a ver com a experiência que, todo dia, pode ser que tenha recebido dos seus pais um dinheirinho para uma bala e viu que sobrou dinheiro suficiente para comprar outra bala. Daí você viu que agora tinha DUAS balas. E essa experiência é muito comum, não só acontecendo com bala. Essa experiência do 1+1 = 2, que é totalmente lógica, torna-se parte da sua experiência comum do cotidiano, realizando-se como um conhecimento. Agora, imagine que esse conhecimento lógico é uma coisa mais abstrata que você não terá experiência todo dia. Por exemplo, que em 1942 rolava a Segunda Guerra Mundial. Você vai anotar as coisas da aula, copiar para a prova e tira uma nota lá, só que aí passa-se anos e você nem necessariamente lembra que ano era essa guerra. Mas não é porque você não se importa com o que aconteceu nesse período, é porque aquilo não está fazendo parte da sua experiência no momento; não é relevante à sua experiência. Por exemplo, houveram manifestações para o aumento da passagem do ônibus e teve até a saída da Dilma, ou do primeiro turno para Presidente em 2022, cheio de tensão do Lula vs. Bolsonaro, onde os dois tentaram de tudo desqualificar o partido do outro. Foi uma coisa que tem mais a ver com a nossa experiência mais atual. Quando lembra dessas coisas é porque aquilo fez parte da sua experiência. Afinal quando não faz parte da sua experiência, e é um conhecimento extremamente importante, tipo a frutinha vermelha que pode te matar se comer. Então uma forma de passar isso adiante, para outra pessoa, é com uma história. Como o ser humano deseja ter controle dos próprios sentimentos, afinal buscamos ter controle de tudo, então temos que esconder que estamos ensinando alguma coisa para outras pessoas. Se eu chegar para você e falar que é para votar no candidato x ou y, você vai falar que não vai, porque não tem nenhuma conexão, nenhuma experiência, com aquilo. De forma parecida, se você chegar para uma criança e dizer que não é para subir uma estante, porque, se subir, vai cair e se machucar, o que acha que ela fará? Com certeza vai ter a experiência de subir na estante e cair, ou só não cair também. Aí, se ela cair, vai ter a experiência da dor — de um pé torcido ou um braço quebrado, talvez —, e com isso vai obter o conhecimento de “pera aí, talvez não seja uma boa ideia subir em estantes”. E precisamos entender que uma história vai pegar uma pessoa — sempre uma pessoa, independente de ser um animal, um robô ou uma torradeira falante; que seja, desde que seja do ponto de vista da “pessoa”. Ou seja: Pessoa = humano. Um ponto de vista HUMANO. Aí devemos pegar esse ser humano e testarmos em relação a alguma coisa, um conflito. Se fala que toda história possui conflito. Isso é uma constatação muito comum por conta dessa forma que vemos as pessoas saírem do conflito, se vencem ou perdem, se mudam ou não, se aprendem algo ou não… transformam, modificam… Enfim, se gera consequências. As consequências dessa história, conscientemente ou não, ensinam algo. Pode ser um ensinamento emocional, um ensinamento lógico, ou pode ser ambos. Só que é um ensinamento que não é totalmente didático. Não segue aquilo de “ei, faça tal coisa”, porque tem a ver com as decisões de um ser humano fictício em cima de um conflito fictício, mas esse conflito imaginativo vai ter a ver com um conflito real ou vai ser uma analogia em relação a um conflito real, ou uma metáfora de um conflito real. E essa é a grande base de todas as histórias. Os elementos de uma história — a Pirâmide do Roteiro Se eu te afirmar que todas as histórias possuem os mesmos elementos, então preciso destrinchar quais são e para que servem para que aceite. Bem, na base de toda história boa, teremos tema, em seguida o personagem, depois conflito, aí trama e, finalmente, estilo. Enfim, o que seria o tema? Quando é explicado isso, muitas pessoas negam a resposta porque parece didático demais; simples ou bobo demais. Mas o tema é a tal da moral da história. Só que todas as histórias têm moral? E precisamos ir mais fundo sobre isso. A gente só vai conseguir isso se encontrarmos a definição dos outros elementos. Na verdade, precisamos entender que a moral da história é o tal do conhecimento sobre a natureza humana, que é tão importante passar, compartilhar, através de experiências. E vamos precisar de personagens para compartilhar uma experiência, porque são eles que vão representar uma ou várias facetas de seres humanos. Já pensou como é personagem em inglês? Bem, é character, né? Mas como é character em português? A resposta está na outra tradução: caráter. Porque uma personagem nada mais é do que uma alegoria de caráter. E só se descobre o caráter de um personagem através das suas ações. Claro, não é qualquer ação também. Sabemos o caráter das pessoas que mais convivemos, porque, ao longo de diversos anos e de diversos “minitestes” de caráter — ou seja, de diversos conflitos que passaram em suas vidas e nas vidas das pessoas —, você viu essas pessoas lidando e tomando decisões nessa vida, dos pequenos aos grandes conflitos, e isso moldou na sua cabeça o caráter dessas pessoas. E não vamos descrever todo o tipo de caráter de uma pessoa para alguém. Tipo, pensa só, você vai apresentar o fulano que você conhece muito bem para outro grupo de amigos… Então não vai falar que o fulano é “isso, aquilo e mais aquilo”. Você vai é resumir tudo, logo vai ser tipo “ai, esse meu amigo/conhecido/familiar, vocês vão gostar muito porque ele(a) é…” e você usa adjetivos ou uma simples descrição. Ou mesmo “vocês não vão gostar por causa disso…” / “vão achar essa pessoa muito…”. E esse resumo não quer dizer que a pessoa é só aquilo, mas que aquilo é o retrato que aquela pessoa passou para você agindo mais daquela forma do que de outra. E, dentro de uma história, você só tem aquele retratinho — aquele pouco tempo para passar sua audiência qual seria a alegoria de caráter. Se você for para todos os lados, dizendo que o personagem é muito bom numa situação, merda em outra, que é irônico naquela, enquanto nessa é muito contraditório, as pessoas não vão conseguir formar uma imagem de caráter; ficará ambíguo demais, e nós não conseguimos tirar nada dessa história. Isso se deve porque a grande alegoria de caráter na obra — o personagem — é a razão pela qual eu estou me identificando com aquela ficção para tirar algo de lá, mesmo que inconscientemente esse seja o propósito das histórias: de nos conectarmos com o personagem para retirar algum conhecimento daquilo; eu não vou conseguir me conectar — de entender. Então a alegoria de caráter vai precisar de ações específicas de um personagem para demonstrar o caráter. E qual ação demonstra isso? São as ações de atitude moral. É por isso que falam que toda história tem moral, porque a atitude de um personagem que demonstra caráter somente é aquela que afeta outros. Se afeta outros, então tem carga moral. Segue o exemplo: Eu vou no banheiro e me estapeio no rosto. Para a audiência parecerá que tem alguma carga moral, mas na prática não está afetando alguém. Agora, a forma como esse personagem está se rebaixando e isso eventualmente afetará outros personagens, então, aí sim, será uma atitude moral. Só que daí em diante terá que demonstrar que essa autodepreciação do personagem irá afetar outras pessoas, para que isso tenha uma carga moral. E, sim, você precisará demonstrar isso. No campo da literatura, esse trabalho é mais fácil, porque há o envolvimento da psique da personagem na narrativa, no entanto, se for filmar uma personagem se estapeando no banheiro, ela sai e não conta pra ninguém, então não teve atitude moral. Se alguém a viu fazendo aquilo ou se ela saiu do banheiro e contou para alguém, já vira uma atitude moral. Essa é a diferença. A partir do momento que a ação repercute em outras pessoas, é uma atitude moral. É, dessa forma, importante entender em seguida qual é a carga moral disso. Digamos que há um personagem numa multidão e uma dessas pessoas possui uma sujeira no ombro. Aí vai o personagem e tira a sujeirinha. Bem, se essa pessoa não percebeu que foi retirada — mesmo que alguém tenha feito uma atitude moral de limpar o ombro dela —, então a carga moral é tão mínima que não afetou alguém, já que ninguém percebeu a ação, ao ponto de nem mesmo demonstrar caráter a ponto de afetar algo. E como fazemos para medir carga moral? É pelo conflito. É por essa resposta que torna o conflito em algo tão importante. Pensa comigo, se eu chego até você e digo, “olha, eu sou muito honesto”. A resposta não poderia ser outra a não ser “não acredito”. Bom, é óbvio, porque eu só FALEI que sou muito honesto para você. Agora, se você me visse numa loja, e estou comprando algo que custa 10 conto, e passo uma nota de 20 reais para pagar, esperando que me devolvesse 10 de troco, só que o vendedor erra a nota e me entrega uma de 100 sem perceber. Vendo esse erro, eu já mando: “Calma aí, chefia, tu errou o troco”. Por eu ter tomado uma decisão que tinha risco — uma vez que havia conflito; algo a GANHAR, caso eu tivesse aceitado o dinheiro —, eu acabei sendo testado. Só que o conflito não testava minha habilidade de ser um bom pai ou um bom colega. Não, aquilo testava a minha HONESTIDADE e nenhum outro aspecto do meu caráter. O jeito como saio desse teste é sendo honesto. Você, que analisa essa atitude de longe, me julga sendo MAIS HONESTO do que se NÃO TIVESSE VISTO. E quanto maior o valor… Digamos que fosse a raspadinha da loteria premiada em mais de 100 mil reais, e eu pego ela e devolvo para a pessoa, você me julgaria MUITO MAIS honesto. É claro que existem outros fatores incluídos na equação. Se eu sou milionário, você julgaria isso como se o dinheiro não tivesse tanta importância para mim; não tem tanto risco para mim. E é por essas que o conflito tem muito mais a ver com o risco; não qualquer risco, mas sim o emocional. Porque o dinheiro, voltamos para a quantia dos 90 reais de troco que recebi, fosse usado para alimentar os meus filhos, já que estou desempregado, então seria diferente. Até porque a audiência, por mais que aquilo não seja moralmente honesto, vai estar moralmente inclinada em aceitar a “desonestidade” de um personagem. Isso é por causa do risco emocional para aquele personagem que está demonstrando que precisa do dinheiro, e aquilo foi mais forte. Agora dá para entender mais essa questão do conflito. Então, quando chega alguém e diz para mim que nem toda mídia precisa de conflito, na verdade NECESSITA. Só que essas pessoas precisam entender que o conflito não precisa ser uma explosão, um meteoro vindo pra Terra, alienígenas invadindo… Não precisa ser isso. O objetivo da trama pode ser sobre um protagonista abrir uma barraquinha de coco na praia. Aí você pode pensar: “Ai, que risco bobo”. Agora imagine que é um cara que acabou de sair da cadeia e tem uma mulher e um filhinho, só que essa mulher impede que ele veja o filho enquanto não ser uma pessoa confiável e digna. Dessa forma, abrir essa barraquinha de coco de repente se torna uma missão para demonstrar à esposa que ele pode ser uma pessoa honesta e ganhar um dinheirinho certo e sair do tráfico. Em seguida, ele se depara com duas opções: voltar ao tráfico e ganhar uma puta grana, enfim sustentando seu filho e mulher; ou lutar todo dia, pouco a pouco, para abrir a barraquinha de coco de forma honesta e ganhar uma graninha, e ainda conquistando a confiança da esposa. Só de ir todo dia à praia, abrir a barraquinha e tentar vender o coco já é um puta risco emocional ao ponto da audiência estar investida. Não é necessário colocar o tráfico, os tiros, porradaria… Só dele ir para a praia já estabelece esse risco emocional e a gente vai estar com o personagem. Risco emocional é tudo. É o porquê de eu me importar com o personagem indo atrás do seu objetivo. Esse objetivo só vai ser digno de empatia porque o que a gente criou com o personagem é a questão da empatia. E empatia não é necessariamente simpatia. Eu não preciso concordar que o protagonista está, por exemplo, roubando um banco. Preciso entender que ele está roubando um banco porque ele acha que essa é a melhor forma de conseguir o dinheiro para a operação caríssima da sua filhinha que ele não tem como custear. Aí assumimos que é errado, mas entendemos o ponto de vista dele de roubar o banco. Enfim chegamos na pergunta chave: O que é uma história (story)? Uma história é basicamente esses três elementos na base da pirâmide: É um personagem sendo testado por um conflito, e como esse personagem sai desse conflito — as consequências desse conflito — nos traz uma moral da história; um conhecimento. Claro, esse conhecimento vai ser subjetivo — cada pessoa vai tirar algo da história de acordo com sua experiência. No entanto, o bom autor, o bom escritor, é aquele que, mesmo da forma mais sutil possível, saberá direcionar sua audiência para que todo mundo saia debatendo sobre a mesma coisa. Ninguém vai sair da história falando que foi uma história de amor, enquanto outra diz que é sobre guerra e uma diz que é sobre religião. Se isso ocorre, então quer dizer que o comunicador, o autor, não soube comunicar sua mensagem; o seu ponto de vista sobre a natureza humana que ele queria passar, e isso é uma falha de comunicação. Então, esses três elementos (tema, personagem e conflito) são o que chamamos de Story, porque, olha só, os outros dois seriam o Telling. E o que é Storytelling? Bem, existe a parte da história… e tem a outra que é de contar ela. Você sabe o que almoçou hoje, né? Mas o que é que você almoçou na terça-feira passada? Se lembra? Você consegue me contar o que fez nessa terça-feira passada e o que aconteceu? Uma coisa importante para entender a diferença entre Story e o Telling é que o primeiro pode ser tudo o que aconteceu no seu dia. Sim, provavelmente você escovou os dentes, tomou banho; você fez coisas que não contou. A trama é a ordem e seleção de eventos para engajar a audiência. Então, ao invés de me contar que você acordou, bocejou, parou o despertador, escovou os dentes, tomou café ou o que você tomou no café, você me contou aquilo que achou relevante. Então a ordem e seleção de eventos vai ser onde encontrará o que é relevante para mostrar aquele conhecimento sobre a natureza humana que quer passar. Assim você vai selecionar somente o importante daquela história para mostrar aquele personagem lidando com aquele tipo de problema, e não todos os tipos de problemas. Você não vai falar que ele passou não sei quanto tempo tentando amarrar o cadarço do tênis, porque isso não faz sentido. Se lembra da dificuldade em lembrar do que comeu na terça passada, né? Agora, se você já esteve num acidente de carro, não é curioso como você ter essa imagem muito mais clara do que o prato que comeu na terça-feira? Dizem muito sobre a diferença entre a notícia de jornal e a história de jornal: A primeira vai falar que cento e tantas pessoas morreram no desabamento de terra durante a descida de algum lugar. Já a segunda, a história, vai falar do ponto de vista de uma pessoa que vivenciou aquilo, e porque teve essa conexão emocional, a gente se engaja mais. Ou, então, ao assistir a notícia, com dados acontecendo, você pode ter pego alguma coisa que o fez reagir: “Meu Deus! O Eduardo tava lá!”, e de repente você criou um engajamento porque aquilo faz parte da sua experiência; teve um risco emocional para você. E por ter criado esse engajamento, aquilo vai fazer parte da sua memória e conhecimento para sempre. Coisa que cento e tantas pessoas sofreram X pode ser esquecido no dia seguinte. Então a trama é muito importante, e a gente entendeu sobre colocar e o que não colocar. Porque tem muitas pessoas que querem, por exemplo, inverter a ordem de como contar, ou contar de um jeito, colocar mais ou menos informação por razões muito aleatórias. O mais importante aqui é o seu ponto. Qual é o seu ponto e como você dá clareza a ele. Não é engraçado que se às vezes quando acontece uma coisa muito absurda, esquisita ou interessante no seu dia anterior você não conta as coisas na ordem? Vamos fingir que você chegou do trabalho e no dia seguinte chega me dizendo: “Ei, você não sabe o que aconteceu… Capotei o carro”. Não parece que está começando pelo fim? E o que realmente é cômico é pensar que tem muitas pessoas que falam que, quando você começa pelo fim, você está criando uma estrutura avançada de se roteirizar. Na verdade, não. Não tem essa de estrutura avançada de roteirização. Você só está contando como contaria no mundo real — e isso é importante. Observe. Nós, seres humanos, como um todo, já temos uma boa habilidade de contar histórias. É que, quando escrevemos, a gente complica. Então você tem que já usar as habilidades que a gente contaria normalmente: tirar coisas e exagerar em outras, não ficar enrolando porque você vai colocar coisas aleatórias. Vai ficar falando: “Olha só a música que tocava no carro quando capotei”, “a temperatura…”, “a luz do luar estava refletindo nas janelas de um jeito…”. Todas essas coisas fazem parte do que chamamos de estilo. E o que é? Existe diversas pessoas que são analfabetas, mas que são exímias contadoras de histórias. Pessoas que não entendem de linguagem, mas que entendem de como engajar uma pessoa, e isso é muito importante a gente criar distinção, porque, quando vamos analisar um filme, uma série ou livro, acabamos analisando da forma errada em termos de prioridade. Então, imaginem que a primeira coisa que a gente vê começa por cima: A nossa visão possui esse ângulo, então vemos primeiro o estilo. Porém o que é o estilo? O estilo é tudo o que tem a ver com a mídia. O estilo é tudo o que tem a ver com a mídia. No cinema, tem a ver com a câmera, a trilha sonora, atuação, as cores de filtro, movimento da edição; na animação tem a ver com o uso de cores, melhora ou piora da animação; na literatura, a linguagem; no teatro, a atuação, o figurino… Então a gente começa analisando enviesado pra essa coisa da percepção. É como se a gente tivesse analisando um presente pela embalagem — é uma coisa extremamente contrária. É bom começarmos a entender o “pra que”. Pra que que foi contada essa história? E uma forma certa de sabermos a resposta é tentar descobrir lá no “final das contas” como esse personagem, ou personagens, que foram afetados, saíram disso tudo. O que era no começo e comparar com o final, entendendo para que serviu tudo isso. Para isso, precisamos começar com histórias supersimples e daí expandindo para complexas.
- Eleceed — Uma história sobre super-humanos e gatos
Eleceed é uma webtoon de ação e comédia escrita pelo autor de Noblesse, Son Jae Ho, e ilustrado pela criadora de Girls of the Wilds, Zhena. Essa resenha contém alguns spoilers. A tradução da sinopse oficial coreana seria algo como: Kaiden, um Despertado que habita um corpo de gato, e Jiwoo, um estudante do ensino médio que esconde sua habilidade. Uma dupla adorável. Apesar da sinopse meia-boca, essa é uma boa e velha história coreana de murim — um mundo secreto onde existem praticantes de artes marciais que dariam inveja a qualquer atleta profissional. O grande diferencial de Eleceed são duas coisas: A arte e os gatos. Isso mesmo, os gatos. No começo, boa parte da temática da obra gira ao redor dos felinos. Seja em casa, onde o protagonista começa a obra com três gatos; seja na rua, onde ele alimenta e leva ao veterinário os gatos sem lar da vizinhança. O mentor do protagonista é um dos mais fortes no mundo dos despertados, que é com eles chamam os artistas marciais que cultivam em Eleceed. Seguindo o que foi comentado antes, ele também é um gato, ou melhor, se transformou em um. À medida que os personagens vão sendo introduzidos, o foco dos felinos — que foi usado junto com a arte para captar os leitores — vai diminuindo e a obra se transforma em um legítimo murim. Organizações de despertados disputam o poder e as pessoas mais fortes comandam tudo. No geral, é uma boa obra. Além da arte — nessa obra, todas as pessoas são incrivelmente lindas — os personagens são a parte mais bem trabalhada. A caracterização e a relação entre eles flui bem e causa interesse por parte do leitor. Os eventos seguem o padrão bem-sucedido das outras várias obras de Murim, mas agora em cores. Apesar disso, existem alguns problemas de planejamento aqui e ali e uma certa repetição na condução e resolução de problemas — Se o oponente é muito mais forte que o protagonista no momento, o mentor interfere e resolve o BO. O tom mais leve, a arte colorida e as várias piadinhas auxiliam a captar pessoas que não gostariam da maioria das obras do gênero. Contudo, também se mostra um problema para avançar no enredo, onde situações não podem ficar tãoo sérias e pesadas assim. Não me entenda mal, existe tortura, mutilação e assassinato, mas são apresentadas de uma forma mais amena para o leitor. A personalidade do protagonista, Jiwoo, auxilia nisso: ele é agradável e seu carinho com os amigos foi uma constante em todos os capítulos até o momento. assim. A nota da obra nas plataformas varia entre 9,3 e 9,9. Considerando os pontos positivos e negativos, eu daria um oito. Vale a leitura — ainda mais se você gosta de gatos. As opiniões contidas nesse artigo não representam necessariamente as opiniões e/ou posicionamentos da Novel Brasil.
- Sistema de Magia
Obs.: Este artigo foi escrito por Dilcelino Jr., membro ilustre da Novel Brasil. A edição e diagramação do artigo foi realizada por Safe_Project e Luiz Gê. Alguma vez você se pegou lá, escrevendo solitariamente e pensando "Nossa, como eu queria que meus poderzinhos fizessem mais sentido..."? Então sorte sua! Está no lugar certo. Neste curto artigo nós apresentamos o seu ponto de partida para alcançar esse objetivo! Então agora que você está aí com brilho nos olhos, vamos começar. Sobre Sistemas de Magia Um sistema de magia é aquilo que "organiza" a forma como os poderes de uma história funcionam. Eles se manifestam em boa parte das novels de fantasia, principalmente do gênero Isekai. E vamos deixar uma coisa clara! Quando falamos "magia", não nos referimos apenas ao foguinho que sai da mão, água brotando do nada e brisinha que derruba copo. Neste artigo, usamos Magia para todo e qualquer tipo de evento "sobrenatural" que você possa ter em uma obra. "Ok! Eu entendi, mas... pra quê eles existem?" Em algo bem resumido, para deixar a magia de uma história mais “crível”, digamos assim. Serve para o leitor olhar uma situação e falar: Caçambas! Faz sentido! Desenhos animados estadunidenses, por exemplo, são "incríveis" justamente por não serem críveis. Ninguém crê que um coyote possa andar no ar e só cair quando se dar conta de onde está, por exemplo. Criar e desenvolver um sistema de magia/poderes na obra é interessante para manter a curiosidade do leitor. Vai me dizer que nunca se pegou assistindo algo que gostava e pensou “Nossa! Mas como ele vai vencer esse inimigo sendo que o poder dele funciona de maneira X?” Em outras palavras, a abordagem mais aprofundada de como esse fator funciona no mundo gera uma maior verossimilhança na obra, colocando o leitor para pensar nos vários tipos de desfecho que uma luta pode ter. Agora, se você quer começar a montar um sistema interessante, é necessário que se faça essas duas perguntas: Para Montar um Sistema Como a magia se manifesta e interage na realidade da história? Quais as regras que regem o uso? 1. Como a Magia funciona e interage com o mundo O poder utiliza aquilo que existe no ambiente ou consegue criar substâncias do zero? Quais são os tipos de magia (caso existam)? Todos conseguem vê-la? Essas são apenas algumas perguntas que você deve fazer ao adentrar esse tipo de assunto. Em One Piece, por exemplo, temos as tão famigeradas Frutas do Diabo, cujos poderes podem ser vistos por todo e qualquer personagem dentro da obra. Ainda em One Piece, temos o exemplo da interação desses poderes com o mundo, visto que a habilidade dessas Frutas podem alterar drasticamente uma paisagem permanentemente. Como o uso dessas habilidades influencia e/ou interage com o mundo? Uma chuva causada por magia em determinado local pode causar uma seca em alguma região próxima? Um poder clássico como o Punho de Fogo poderia colocar uma floresta em chamas ao invés de simplesmente “esquentar” a mão daquele que o usa? Caso queira, o autor pode também abordar a interação desses poderes com a sociedade em si. My Hero Academia é uma ótima demonstração disso. Numa sociedade onde as pessoas desenvolveram poderes apelidados de Individualidades, surgiu a profissão de Herói para aqueles que usavam a habilidade para o bem, assim como aqueles que usavam para o mal eram chamados de Vilões. 2 - Regras de uso Imagine uma batalha entre usuários de Stand, em Jojo's Bizarre Adventure. Entre os duelistas, há um que luta mano-a-mano e um a longa distância. Hirohiko Araki, o autor da obra, explica nessas cenas que o Stand "mano-a-mano" (considere esse como o Protagonista) necessita estar a até dois metros do oponente para que possa alvejá-lo com murros. Enquanto isso, o de "longa distância" pode estar há dois quilômetros dele e ainda assim o atingir. Com essas informações e os respectivos oponentes lutando, o leitor tende a pensar: “Mas como o protagonista vai ganhar? OH MY GOD!!" E para o desfecho já entra questões de escolha do próprio autor. Assim, o leitor saberá que não haverá como o Stand "mano-a-mano" atingir o de "longo alcance" caso este esteja a uma distância maior que dois metros. É disso que trata a segunda pergunta: você deve regrar as magias/poderes de sua história. Isso é interessante não só para deixar mais "compreensível" o modo de uso, mas para aumentar a tensão em uma luta. No caso da batalha de stands, aumentou-se a tensão ao dizer que o "mano-a-mano" tem um menor alcance que o inimigo. “Como Fulano vai vencer?” Essa é a principal dúvida que o autor quer gerar ao especificar a maneira como seu sistema de poderes funciona, pois ela é um dos fatores que manterá o público engajado na leitura. Dessa forma, você terá ao menos uma base sobre "o que é" a sua magia, podendo desenvolver outras coisas (Limitações, Fraquezas, Tipos de Poder, entre outros) através de outros estudos. A partir disso, poderá aprofundar ainda mais o seu conhecimento, deixando o sistema mais complexo crível. Obs.: Lembrando que nem todas as obras necessitam de tamanha profundidade nos sistemas de poder, isso varia de acordo com o foco que cada autor possa ter em sua obra. Algo que deve ser julgado pelo próprio. As técnicas aqui abordadas podem ser melhor aprofundadas com o estudo complementar sobre Tensão e Wordlbuilding, assuntos também disponíveis aqui no site.
- Como aumentar o risco na sua novel
Bora aumentar o risco?! Manter o leitor preso na sua história é fundamental e, para isso, uma das formas mais fáceis é encher sua história com um forte senso de perigo, ou seja, ter certeza de que sempre há um grande risco de perder algo. Para esse objetivo, o perigo é fundamental, pois pode aumentar e melhorar os conflitos na sua história ao adicionar mais tensão, mais suspense e um maior impacto a cada revelação sobre o mundo ou seu personagem. Mas como construir um poderoso risco na sua história? Como adicionar esse risco quando sua história está murchando e perdendo a graça? Bem, é para te ensinar isso que escrevemos essa porra. Para começar, identifique as maiores ameaças na sua história Toda história tem um risco principal, algo que o seu protagonista tem que apostar por toda a sua novel. E se não tiver? Você pergunta. Então lamento informar, mas é provável que sua história esteja se tornando uma série de eventos não relacionados sem nenhum foco claro. Sim, num geral, o sucesso da sua novel depende do quão bem você mantém esse risco por toda ela, agora, por que não ouvir um pouco mais sobre isso? Primeiro, pense no seu protagonista, naturalmente o principal risco na sua história estará associado a ele. No final das contas, é com ele que o leitor vai passar mais tempo, por isso é bom que os momentos mais tensos estejam ligados a ele, garantindo que as pessoas possam simpatizar com sua situação ou pelo menos ficarem curiosas sobre como ele vai dar um jeito em tudo. Para fazer isso direito, vai precisar conhecer muito bem o seu personagem principal. Não sabe como fazer isso? Relaxa, temos a solução, leia a Introdução a criação de personagem ou a assista a live sobre Criação de personagem. Feito? Espero que sim, agora bora, comece se perguntando isso: O que meu protagonista quer? (Ex: felicidade, vingança etc) Como ele planeja alcançar isso? Ou seja, qual seu objetivo? Motivation? Por que ele quer alcançar esse objetivo? Qual sua motivação? Como a jornada do seu seu protagonista vai tirá-lo da zona de conforto? O que meu personagem principal pode perder se não atingir seu objetivo? Como as crenças e vida do seu protagonista mudarão se ele falhar? Quais serão as consequências se o meu protagonista falhar? Não só pro personagem principal, faça o mesmo para seu antagonista, isso vai te ajudar a criar um inimigo mais realista e complexo, sabe aqueles vilões que amamos mais que o herói? Dá para fazer um desses assim. Obs.: Se não tiver antagonista, não tem problema. É comum que que seu protagonista seja seu pior inimigo ou coisas do tipo. Completando esse primeiro passo, você terá uma visão geral da sua história, o que será suficiente para construir suas ameaças principais. Próximo passo, aumente o risco Os riscos da sua história mantém os leitores muito engajados porque apelam às emoções e aos sentidos deles. Tomar cuidado extra para amplificar esses itens em toda a sua história pode ajudar bastante a continuar engajando seus leitores em cada página. Lembre-se, sua história não deve ter suas ameaças reduzidas apenas a um ou alguns riscos principais. Ou seja, você precisará colocar, constantemente, o protagonista em situação de perigo, onde ele esteja, de alguma forma, em risco de se foder tanto física quanto emocionalmente. Para encontrar essas ameaças maiores, preste atenção nesses fatores: #1: MEDOS Do que seu personagem tem medo? Talvez aranhas, talvez altura, ou talvez um medo emocional, medo de rejeição, medo de se apaixonar e por aí vai. Encontres 3 medos do seu personagem, de preferência emocionais. Por fim, desenvolva a razão para esse medo, basicamente pensar no trauma que gerou esse medo. #2: DEFEITOS Qual a pior parte do seu personagem? Ficar putinho, ser orgulhoso, babaca, arrogante, ganancioso, tímido, algum defeito ele tem que ter. Também é bom dividir esses defeitos em duas categorias: os que seu protagonista é consciente sobre e os que não. Por fim, descreva como esses defeitos impedem seu personagem de ser ou conseguir o que quer. Além disso, reserve um tempo para considerar quaisquer características que não sejam necessariamente falhas, mas que seu personagem não goste de si mesmo, ou seja, mau senso de humor, falta de habilidades de falar em público etc… #3: ARREPENDIMENTOS Seus personagem gostaria de mudar alguma atitude sua no passado? Ou seja, fazer ou deixar de fazer algo. Pense em umas 2 situações que deixaram seu personagem arrependido e em como isso o moldou como pessoa. Por exemplo, depois disso ele mudou? Ele tem medo de passar pela mesma situação? Ele se sente imerso em culpa? Agora que você sabe quem é seu personagem na pior hora, é o momento de encontrar seu Rose interior, ou seja, ser cruel. Pense em situações nas quais seus personagens terão que enfrentar esses obstáculos emocionais e, em seguida, pense em como encaixá-los no seu enredo. Forçar seu personagem para fora de sua zona de conforto, criar situações em que ele deve ser corajoso e superar ou enfrentar seus defeitos e mudar, vai fazer seus leitores ficarem viciados. Finalmente, bora aumentar a tensão na sua obra Uma das razões para o risco ser tão importante é que ele cria tensão, sentimento que mantém o leitor viciado na sua obra. Então aqui vão três jeitos de aumentar a tensão na sua história a um outro nível. #1: A BOMBA RELÓGIO O truque mais clássico para aumentar o sentimento de risco é adicionar uma contagem regressiva ao seu conflito. Em outras palavras, se seu personagem não atingir X em um determinado período Y, grandes consequências ocorrerão. Nada fará com que os leitores voem pelas páginas mais rápido do que saber que seu personagem perderá algo enorme se não cumprir um prazo. #2: SURVIVAL MODE Outro truque para aumentar o risco da sua história é colocar seu personagem em uma situação que traga à tona seus instintos primitivos. Todo mundo quer se sentir seguro, fisicamente, financeiramente e emocionalmente, queremos segurança nesses quesitos. Por isso, ao colocar seu protagonista, ou seus amados, numa situação sem essa segurança, você vai forçar eles para o survival mode. Nessa situação, qualquer falha é fatal nessa situação e, apenas para deixar o leitor ainda mais tenso, não deixe de lembrar que pessoas que nesses estado pessoas tomam decisões precipitadas, ou seja, a qualquer instante seu personagem pode dar um passo em falso e fodeu. Seu leitores vão ficar desesperados a cada nova decisão do protagonista, lendo atentamente para ver se ele não faz merda. #3: R-E-S-P-E-C-T Quando a essência do seu personagem está em perigo o risco da sua obra chega às alturas. Colocar seu protagonista em uma situação onde ele seja forçado a questionar suas crenças ou lidar com perda de reputação, é uma forma fácil de adicionar tensão instantânea. Só para acabar, lembre-se, os riscos de sua história estão profundamente entrelaçados com seu enredo e personagens, então pode ser que você já tenha começado a construir eles sem nem perceber. Dito isso, é sempre bom pensar e fazer as coisas na sua história conscientemente, assim você saberá exatamente o que quer fazer e como fazer. Dá muito mais trabalho, mas vai valer a pena, o trabalho duro vai ser compensado quando conseguir entregar uma obra que seu leitor não consegue parar de ler.
- Escrevendo na Terceira Pessoa Limitada: Dicas e Exemplos
Artigo foi escrito originalmente por Jordan do site Nownovel O ponto de vista — em inglês, point of vision ou só POV — da terceira pessoa limitada é um dos mais comuns na ficção moderna. O que é a terceira pessoa limitada? Como podemos usá-la de forma efetiva? Além de responder essas perguntas, daremos dicas e exemplo de autores que utilizam esse POV. O que é o POV de Terceira Pessoa Limitada? Uma narração em terceira pessoa usa, entre outros, pronomes como Ele, Ela ou Eles. Neste tipo, o narrador é um “observador que não participa dos eventos representados”. Em outras palavras, o narrador está ali para observar e comentar sobre os principais eventos da história. Terceira pessoa limitada é diferente da terceira pessoa onisciente, pois o narrador é um participante ativo. Embora os pronomes sejam iguais ao do POV onisciente, o limitado só sabe aquilo que um personagem ou grupo — do ponto de vista do narrador — sabe. Ou, como Ursula K. Le Guin coloca em seu guia de escrita Steering the Craft, em terceira pessoa limitada: Apenas aquilo que o personagem, do seu próprio ponto de vista, sabe, sente, percebe, pensa, supõe, espera, se lembra, e etc., pode ser dito. O leitor pode deduzir o que as outras pessoas sentem e pensam a partir da perspectiva de um personagem. Então… Como exatamente podemos usar esse POV corretamente? Como usar a Terceira Pessoa Limitada 1: Use o tom da narração para mostrar os sentimentos; 2: Mostre o mistério de um ponto de vista limitado; 3: Mostre as suposições equivocadas dos personagens; 4: Contraste diferentes pontos de vista limitados para mostrar experiências diferentes. 1. Use o tom da narração para mostrar os sentimentos O POV de terceira pessoa limitada é ótimo para mostrar como outras ações impactam na perspectiva do personagem. Isso porque você só pode mostrar o que o POV do personagem sabe ou supõe, enquanto as ações de outros personagens ficam em mistério. Na terceira pessoa limitada, nossas suposições a respeito dos pensamentos e motivações pessoais de outros personagens se tornam tão boas quanto a capacidade do próprio personagem narrador de observar, descrever e interpretar. Exemplo de tom efetivo na Terceira Pessoa Limitada: Por exemplo, J.K. Rowling usa narração limitada em terceira pessoa na série Harry Potter, ela mostra como os maus-tratos habituais por parte de sua tia e tio deixam Harry com baixas expectativas de ocasiões que esperaríamos ser felizes: Os Dursley nem sequer se lembraram que hoje, por acaso, era o décimo segundo aniversário de Harry. Naturalmente ele não alimentava grandes esperanças; seus parentes jamais tinham lhe dado um presente de verdade, muito menos um bolo — mas esquecê-lo completamente... Harry não nos fala diretamente quais são seus sentimentos: É o tom da terceira pessoa limitada que faz isso. É claramente construído pela própria experiência de Harry. As palavras “Naturalmente” e “mas esquecê-lo completamente” poderia ser a própria voz de Harry, seus pensamentos em itálico. Use uma linguagem emotiva na narração em terceira pessoa de forma semelhante para fazer sua narração mostrar os sentimentos dos narradores. 2. Mostre o mistério de um ponto de vista limitado Terceira pessoa limitada é bastante popular em romances — novels — de mistério, isso porque quando nós não sabemos o que um personagem secundário está pensando e sentindo explicitamente, ele permanece como um intrigante mistério. Mostrando os pensamentos e sentimentos desconhecidos de outros personagens na terceira pessoa limitada: Nós poderíamos, por exemplo, ter uma cena onde o investigador encontra um possível suspeito de assassinato: Inspetor Garrard assistiu o homem atrás do balcão servindo um cliente. Seus movimentos eram rápidos, quase agitados. Quando se aproximou, viu os olhos do homem pousarem em seu peito, como se procurasse um distintivo revelador. Ou ele estava imaginando coisas, o homem havia abaixado os olhos por timidez? Como podemos ver, nós apenas sabemos aquilo que o detetive vê e supõe. Nós o vemos analisando a linguagem corporal das pessoas e dando significados para isso. Pelo fato dele estar procurando por um suspeito, mesmo os menores gestos do homem parecem suspeitos. No entanto a perspectiva do nosso personagem é distorcida, ou melhor, moldada por seu foco atual: pegar um culpado. O homem pode ser totalmente inocente. A Terceira Pessoa Limitada nos permite sentir a tensão do quão “desconhecida” outro personagem 一 um “não-eu” 一 pode ser, pois nós não conhecemos, com total certeza, os pensamentos e opiniões pessoais desses personagens. 3. Mostre as suposições equivocadas dos personagens Em Orgulho e Preconceito, Austen usa a terceira pessoa limitada para descrever as primeiras impressões de Elizabeth Bennet’s do seu eventual interesse amoroso, Sr. Darcy. Assim como o inspetor do último exemplo assumiu ou imaginou culpa com base em sinais revelados no comportamento de outra pessoa, o seu narrador em terceira pessoa limitada pode assumir o pior — ou melhor — por meio de informações limitadas. Exemplo de suposição em uma narração limitada: Em Orgulho e Preconceito, Austen usa a terceira pessoa limitada para descrever as primeiras impressões de Elizabeth Bennet’s do seu eventual interesse amoroso, Sr. Darcy. Primeiro nós conhecemos Darcy numa dança. Darcy dispensa a ideia de dançar com Lizzie para o amigo. Lizzie ouve: — Oh, é a mais bela moça que já vi na minha vida, mas bem atrás de você está uma das suas irmãs, que é muito bonita e agradável. Deixe-me pedir ao meu par que o apresente a ela? — Qual? — perguntou ele, voltando-se e detendo um momento a vista em Elizabeth até que, encontrando os seus olhos, desviou os seus e disse, friamente: — É tolerável, mas não tem beleza suficiente para tentar-me. Não estou disposto agora a dar atenção a moças que são desprezadas pelos outros homens. É melhor você voltar ao seu par e se deliciar com os seus sorrisos, pois está perdendo tempo comigo. Mr. Bingley seguiu o conselho. Mr. Darcy se afastou e os sentimentos de Elizabeth para com ele não permaneceram muito cordiais. Note a linguagem emotiva que Austen utiliza na descrição em terceira pessoa de Darcy. Ele “dispensa” a ideia de dançar com Lizzie e “friamente” se retira. Estas, juntamente com suas falas, nos passam uma ideia de uma fria superioridade... Mas tudo isso é do ponto de vista de Lizzie, moldado pelo insulto percebido em relação ao seu apelo. Embora para Lizzie, Darcy “retire” seu olhar, ele poderia facilmente ter desviado o olhar por pura timidez. Lizzie interpreta o gesto em conjunto, no entanto com suas palavras aparentemente indiferentes. Isso mostra o quão efetivo a terceira pessoa limitada pode ser em como as pessoas avaliam umas às outras usando as informações limitadas que possuem. É apenas mais tarde na obra em que vemos a bondade e cordialidade que Darcy é capaz, e reconhecemos seus maneirismos indiferentes como sinais de um personagem sério, apaixonado, mas socialmente estranho. 4. Contraste diferentes pontos de vista limitados para mostrar experiências diferentes Na terceira pessoa limitada, embora o seu narrador ocupe um ponto de vista limitado na cena, mostrando ao leitor apenas o que uma única mente vê, ouve, pensa e assume, você ainda pode alternar entre diferentes POV de seção em seção. A vantagem desse tipo de abordagem é que você pode mostrar as crenças e suposições de outros personagens à medida que interagem com outras pessoas com consciência parcial e, de outras maneiras, defeituosa. Exemplo: Contrastando um ponto de vista de terceira pessoa limitada em O Amor nos Tempos do Cólera. Gabriel Garcia Márquez usa esse potencial da terceira pessoa limitada com excelente efeito em O Amor nos Tempos do Cólera. Esse romance épico nos conta a história de um amor não-correspondido quando dois possíveis amantes se cruzam novamente, mas muito mais tarde na vida. No início do romance, Florentino Ariza confessa seu amor à obsessão de sua juventude, Fermina Daza. No entanto, em um péssimo momento: no velório de seu marido. — Fermina — disse — esperei esta ocasião durante mais de meio século, para lhe repetir uma vez mais o juramento de minha fidelidade eterna e meu amor para sempre. Fermina Daza se teria julgado diante de um louco, caso não tivesse tido motivos para pensar que Florentino Ariza estava naquele instante inspirado pela graça do Espírito Santo. Seu impulso imediato foi maldizê-lo pela profanação da casa quando ainda estava quente no túmulo o cadáver de seu esposo. Vemos os gestos apaixonados de Florentino, mas através do olhar descrente e crítico de Fermina. No capítulo seguinte, veremos mais da visão dele. Florentino se lembra da primeira vez que viu Fermina: Ao passar diante do quarto de costura viu pela janela uma mulher mais velha e uma menina, sentadas em duas cadeiras muito juntas, as duas acompanhando a leitura no mesmo livro que a mulher mantinha aberto no colo. [...] a menina levantou a vista para ver quem passava pela janela, e esse olhar casual foi a origem de um cataclismo de amor que meio século depois não tinha terminado ainda. Ao longo do romance, Márquez alterna entre a perspectiva menos romântica de Fermina e o ponto de vista romântico obstinado e obsessivo de Florentino. O contraste sobre como eles interpretam seus encontros e os significados que dão a eles, tudo isso cria a forte impressão de dois personagens diferentes com suas próprias peculiaridades, forças e fraquezas.